23/11/2012

Conto 5: O sorriso no elevador

Fonte da imagem: AQUI.
 
Num tempo em que os homens tinham desaprendido de sorrir, apareceu, certo dia, uma menina que tinha um sorriso tão simpático que uma pessoa até sentiria calor no coração, se o riso e a alegria não tivessem sido expulsos há tanto tempo da Terra.
Não se ganhava nada com eles, diziam, e, hoje em dia, quem é que tem alguma coisa para dar?
Mas, um belo dia, sem nada o deixar antever, apareceu aquela menina no elevador…
A princípio, ninguém reparou, tão preocupadas estavam as pessoas consigo mesmas.
Nem sequer Tomás, que naquele dia regressava da escola. Seguia no elevador, sério, a refletir, quando, de repente, ouviu a menina perguntar:
— Também sabes rir?
Admirado, Tomás virou-se.
— Já não rio desde os quatro anos — resmungou.
— Porquê? — perguntou a menina.
— Rir não serve de nada. Não vale um cêntimo. Aprende-se isso logo no infantário.
Ao entrar mais tarde no elevador com a mãe, Tomás voltou a encontrar a menina.
— Olá! — disse ela com um sorriso radiante.
— Olá — balbuciou Tomás, envergonhado.
E subiram calados.
Mas como a menina não deixava de sorrir, Tomás também não conseguiu por fim conter um sorriso.
Pela primeira vez! Mas a mãe logo ficou muito assustada.
— Pára com isso! — ralhou-lhe ela. — Não temos nada para dar!
Tomás assustou-se e fez uma cara séria.
Mas não conseguia esquecer o sorriso da menina no elevador.
Quando, na manhã seguinte, voltou a encontrá-la, ficou tão satisfeito que esboçou um tímido sorriso.
— Mas tu sabes rir! — exclamou a menina, radiante.
Tomás ficou tão contente que até sentiu umas coceguinhas pelas costas acima.
Desta vez sorriu, extasiado, e as cócegas então é que não paravam… Nunca tivera uma sensação daquelas! Mas era uma sensação tão boa que ele agora sorria sem parar na rua, no autocarro, na escola, na padaria. E Tomás tinha um sorriso tão amável que as pessoas não conseguiam deixar de responder com outro sorriso. E como elas sentiam de repente um formigueiro, também não conseguiam parar de sorrir!
Nesse dia, Tomás voltou alegremente para casa.
Estava todo contente: iria voltar a ver a menina! Mas quando, a sorrir, abriu a porta do elevador, só encontrou alguns vizinhos … que lhe sorriram, hesitantes. A menina já lá não estava e nunca mais a viu…
Só tinha ficado aquela sensação agradável de formigueiro.
E a menina?
Ora bem, caso alguma vez a encontres no elevador, já sabes…

Elke Bräunling, Da wird die Angst ganz klein, Limburg, Lahn Verlag, 1998, (Tradução e adaptação)
Fonte: Clube de Contadores de Histórias


22/11/2012

Conto 4: Os pequenos cavalos de vento

Fonte da imagem: AQUI.
CAVALOS DE VENTO: pequenos papéis com a figura de um cavalo pintado que se lançam ao céu. O vento leva aos deuses as preces que se escrevem neles. Os cavalos de vento também podem ser de tecido, em forma de bandeirinhas de oração.


Nessa noite, por baixo da manta, Dolma tomara uma decisão. No dia seguinte, partiria ao alvorecer com o seu iaque e subiria o estreito que leva ao grande lago sagrado Zhara Yuntso. Ficava longe e muito alto na montanha, mas fá-lo-ia, pela sua mãe doente. Arranjara muitos pequenos cavalos de vento que lançaria do cume para levarem as suas orações.
Antes do amanhecer, Dolma encheu o alforge com comida para a viagem: carne seca, bolas de tsampa** e chá de manteiga. Abraçou a mãe e saiu para a manhã fria. O ar glacial apanhou-a de surpresa. Cerrou os dentes, pegou na corda do seu iaque e afastou-se do acampamento que ainda dormia. Após algumas horas de marcha, levantou-se uma tempestade, mas Dolma descobriu uma gruta entre as inclinadas rochas que a rodeavam.
—Vamos abrigar-nos!
No fundo da gruta, a menina encontrou uma estátua de Buda. Ajoelhou-se, murmurando uma súplica. Mas, de tão esgotada que estava devido à longa caminhada, adormeceu aos pés da estátua. E sonhou que estava na mão de Buda e sobrevoava imensas planícies verdes. Buda falava-lhe docemente, animava-a, tranquilizava-a. E apontou-lhe com o dedouma ermida perdida na montanha. Dolma acordou sobressaltada, com uma estranha frase a martelar-lhe na cabeça: “Desconfia do mel doce oferecido no gume da navalha.”
Estava sozinha com o seu iaque e segurava na mão uma pequena flauta. Quando a levou aos lábios, dela saiu uma doce melodia. Nesse instante sentiu a presença de alguém…uma sombra que logo desapareceu. A menina correu para a entrada da gruta e viu um enorme e belo bharal***.
—Espera! Não te vás embora! — gritou ela. — Tenho de ir até à pequena ermida no cimo da montanha. Ajuda-me!
—Porque é que te hei de ajudar? — perguntou a cabra azul.
— Porque, sozinha, nunca conseguirei lá chegar! E tu és a rainha desta montanha.
— O que fazes aqui sozinha?
— A minha mãe está doente e já não temos remédios que a curem. E o meu pai está na aldeia. Vou ao desfiladeiro de Zhara enviar as minhas preces aos deuses. É a única coisa que posso fazer.
— Anda comigo — disse a cabra a sorrir. — O som da tua flauta tocou-me.
Montada no seu iaque, Dolma seguiu obharal até ao pôr-do-sol. Outras cabras vieram-se-lhes juntar e, à chegada ao mosteiro, eram já um pequeno grupo. Dolma agradeceu a ajuda da cabra e quis oferecer-lhe a flauta. Mas aquela recusou:
— A flauta escolheu-te a ti. Adeus e boa sorte, pequena Dolma.
A divisão estava na penumbra. Dolma aproximou-se. Pela janela aberta viu um velho monge a rezar diante de um altar. Bateu suavemente à porta para não assustar o ermita.
— Boa tarde. Gostaria de passar aqui a noite. Prometo não incomodar.
— Entra, pequena, entra. Estava à tua espera! — disse o monge, retorcendo-se de um modo estranho.
Dolma viu que o seu olhar era maligno. Tossia e a cara desfigurava-se ao falar.
— Acomoda-te, grrr, fica à vontade. Trago-te já um pouco de chá e uns deliciosos bolinhos. Volto já, grrr…
— Que esquisito! — pensou Dolma.
Foi então que viu um prato cheio de raízes. Apanhou algumas e guardou-as no gorro. Do quarto para onde o monge tinha desaparecido vinha um cheiro a chá, mas também uns sons nada tranquilizadores. Dolma lembrou-se do sonho e das palavras de Buda. Levantou-se para ver melhor o que se passava. E o que viu deixou-a sem fala: um demónio! Invadiu-a um cheiro a podre. Não havia um minuto a perder!
Fugiu dali. Pegou no alforge e no seu iaque e correu tanto quanto as suas pequenas pernas o permitiram. Deixou-se cair atrás de um chorten**** e acariciou o iaque, tranquilizando-o.
— Escapámos por um triz, meu bom amigo. Mais um pouco e estaríamos agora entre aquelas coisas que estavam dependuradas no teto.
Dolma olhou à sua volta. A noite estava clara. O iaque apontou então com a cabeça para o cume da montanha.
— Tens razão!— suspirou Dolma — Afastemo-nos mais desse demónio.
Caminharam a bom passo, mas o frio era tão intenso que a menina deixou de sentir os pés. Parou ao abrigo do vento e o iaque deitou-se, com ela entre as suas patas. Dolma pegou na flauta, e a melodia que saiu aqueceu-lhe o coração. Adormeceu sorrindo, embalada pela respiração do animal. Ao despertar, um pequeno cavalo fitava-a com curiosidade.
— Assustaste-me!
— Desculpa. O que fazes aqui?
— Vou para o desfiladeiro do lago sagrado. Vou oferecer as minhas orações.
— Posso acompanhar-te porque para mim é fácil. Mas, primeiro, tens de me deixar comer algumas dessas raízes para me darem força.
Dolma deu-lhe os pedaços que apanhara em casa do monge. O cavalo depressa os comeu. E logo saíram a galope. Parecia à menina que estavam a voar. Andaram muito e iam tão depressa que logo viram o resplendor do sol refletido na superfície do lago dominado pelo majestoso Zhara Lhatse.
— Oh, que fumo é aquele a sair da água?
— São as fontes quentes da montanha. Podes tomar banho lá, se quiseres.
Dolma entrou com prazer nas águas borbulhantes. Em seguida, continuaram o caminho e, após umas horas, chegaram ao desfiladeiro de Zhara. A menina pegou nos seus pequenos cavalos de vento, aproximou-os dos lábios e soprou com todo o amor e força que tinha dentro de si. Fechou os olhos e enviou-os em pensamento aos deuses.
A viagem de regresso durou muitos dias. Dolma orou todo o caminho até chegar à aldeia. Ao entrar na tenda, deparou com o pai, os irmãos… e a mãe sentados em volta do lume. Colocou a pequena flauta diante da estátua de Buda e atirou-se para os braços da mãe.
♦♦♦♦
Vocabulário:
**TSAMPA: bolinhas muito nutritivas típicas do Tibete, confecionadas com feijão vermelho, grão-de-bico, lentilhas, milho, amendoim natural, mel puro, banana verde, soja em grão e trigo.
***BAHRAL: cabra de pelagem azul e cornos grandes que vive nas montanhas do Tibete.
****CHORTEN ou STUPA: monumento funerário que guarda as relíquias de um santo ou orações sagradas. Encontram-se por todo o lado, porque dão vida aos lugares à entrada das aldeias, ao lado dos mosteiros, nos desfiladeiros e nos vales.

Anne-Catherine de Boel, Los pequeños caballos del viento, Barcelona, Corimbo, 2009 (Tradução e adaptação).
Fonte: Clube de Contadores de Histórias

 

21/11/2012

Conto 3: A canção da avó (Barbara Soros; Jackie Morris)

A imagem veio dAQUI.
No coração do México, os falcões sobrevoam as altas montanhas, mergulhando em direção às encostas suaves, semeadas de milho. Debaixo do sol tropical, as iguanas descansam sobre rochedos brilhantes, e os tucanos conversam com os guaxinins empoleirados em árvores verde-esmeralda. Por entre as colinas, os pumas correm, as raposas cinzentas procuram galinhas, e os lobos uivam entre si, à noite.
Numa aldeia situada no sopé das montanhas, vivia uma avó com a neta. Plantavam milho, tomates e girassóis na Primavera e juntas viam os rebentos verdes despontar da terra. No Verão, colhiam lírios brancos como leite, punham-nos em cestos às costas, e levavam-nos para vender no mercado. Pelo Outono, decoravam caules esguios de milho para a festa das colheitas, a fim de agradecer os cereais de um ano inteiro. No Dia dos Mortos, costumavam erigir um altar e acender velas, relembrando os entes queridos. E no Natal, pegavam em cola e papel e faziam pinhatas, que enchiam com frutas e doces.
A avó era alta e imponente. Tinha as faces macias e as maçãs do rosto bem marcadas. Os olhos eram profundos, castanhos e doces. Embora tristes, eram bondosos. Tinha o peito largo e as ancas redondas. Pernas e pés robustos ligavam-na à terra, como se fosse uma árvore antiga. Os braços eram fortes e as mãos graciosas, com dedos longos e finos. Era uma mulher tão delicada como os rebentos de um jacarandá.
A neta gostava de explorar e de sonhar. Costumava brincar sozinha, nos campos e nas florestas, mas tinha medo das sombras escuras, dos barulhos dos animais, e de tudo o que fosse novo e diferente. “O que haverá no buraco desta árvore velha?” pensava, enquanto se erguia nos bicos dos pés e esticava o pescoço para espreitar o tronco oco. Contudo, mal ouvia um gato-do-mato nos ramos altos, começava a tremer dos pés à cabeça, como um saco de folhas secas a ondular numa tarde ventosa.
Certo dia, a neta assustadiça encontrou um tatu. Não passava de um vulgar tatu que se cruzara no seu caminho, mas a rapariga tremeu como se fosse um urso feroz com garras afiadas e dentes rangentes. Depois desse encontro, cada pequena sombra no caminho para casa iria transformar-se num monstro aterrador.
Quando a avó ouviu o barulho da porta, correu para a neta e abraçou-a. Em seguida, sentou-a ao colo e afagou-a com doçura. Enquanto lhe afagava o cabelo e as costas, ia cantando:
— Minha pequenina, como bate o teu coração e que medo te faz tremer tanto! O mundo é um lugar assustador para os que não confiam. A minha ternura dar-te-á confiança: a confiança que sinto, a confiança que a minha avó sentia, e que herdou da avó dela.
A neta sentiu-se invadida por um calor reconfortante e, enquanto o sol se punha, deixou de tremer e adormeceu.
No dia seguinte, um grupo de crianças surpreendeu-a enquanto brincava à beira da estrada. Rindo e gritando, correram para ela e perguntaram-lhe:
— Onde fica o rio?
Em vez de fugir, a menina apontou com o dedo para a esquerda. Embora tremesse por dentro, o dedo mantivera-se firme. Nessa noite, contou à avó o que acontecera. A avó sorriu:
— Isso já é um progresso.
Pegou na neta ao colo e afagou-a como se faz a um gatinho. Depois, começou a cantar:
— Minha pequenina, como bate o teu coração e que medo te faz tremer tanto! O mundo é um lugar assustador para os que não têm coragem, mas hoje mostraste bravura. A tua coragem alia-se à minha e à da minha avó, que a herdou da avó dela.
A neta sentiu uma força percorrer o seu corpinho e as tremuras pararam.
Alguns dias depois, um beija-flor caiu de um ninho no jardim e partiu uma asa. Em vez de fugir, a neta assustadiça dirigiu-se à avezinha e pegou nela. O corpo do pássaro tremia ainda mais do que o seu. A menina sentia o coraçãozinho minúsculo e trémulo e a barriguita quente e penugenta. Pegou no beija-flor com a mesma ternura com que a avó pegara nela e levou-o para casa.
A avó sabia tomar conta de animais feridos. Fizeram juntas um pequeno ninho numa caixa, com tecido e palha, e alimentaram o pássaro com um conta-gotas. A menina deu de beber ao bichinho, gota a gota. À medida que o fazia, ia sentindo um entusiasmo percorrer o seu corpo.
A avó sorriu e o sorriso iluminou-lhe o olhar.
— Isto é que é um progresso!
Enquanto o beija-flor dormia, pegou na neta e cantou:
— Minha pequenina, como bate o teu coração e que medo te faz tremer tanto! O mundo é um lugar assustador para os que não ajudam os outros. Hoje ajudaste uma criatura pequena e assustada e descobriste o teu dom de curar.
Durante toda a noite, a avó manteve a sua querida neta ao colo e continuou a cantar:
— Este é o dom que te transmito, que é também o dom da minha avó, que o herdou da avó dela.
Certa tarde, a neta observava uma loja do mercado quando o comerciante acusou injustamente uma criança de ter roubado. A menina viu a cara irada do homem enquanto este apontava um dedo ameaçador ao menino. Embora com o coração a bater, aproximou-se do comerciante e disse:
— Este rapaz não roubou nada. Eu vi. Por favor, não grite com ele.
O comerciante grunhiu uma resposta e a rapariga perguntou:
— Quanto dinheiro perdeu?
— Dez cêntimos — respondeu o homem.
A menina remexeu no bolso e deu-lhe todo o dinheiro que tinha.
— Isto é que é progresso! — exclamou a avó, quando a neta lhe contou o sucedido, quase sem fôlego pela corrida até casa.
A avó pegou nela ao colo e afagou-a durante muito tempo.
— Ouve bem, minha querida. O mundo é um lugar assustador para os que não têm dignidade. Hoje mostraste a tua. A ela junto a minha e a da minha avó, que a herdou da avó dela.
A neta sentiu um orgulho estranho invadir-lhe o corpo. Sentiu-se maior e mais forte.
◊◊◊◊◊◊
Quantas vezes mais a avó acariciou a neta? Quantas vezes mais cantou para ela? Não sei. Mas sei que o fez muitas e muitas vezes, durante muitas semanas e muitos anos. Através da sua ternura, incutiu na neta assustadiça confiança e coragem, destreza e dignidade. E as suas canções eram tão profundas que penetravam o coração, o sangue, e todo o corpo da menina.
A neta cresceu esperançada, digna de confiança, generosa e bondosa. Já ninguém se lembrava de que fugira em tempos de guaxinins. Tornou-se uma mulher forte, de gargalhada fácil, tirando prazer de tudo o que a rodeava.
E muito mais tarde, embora já tivesse filhos, ainda punha a cabeça no colo da avó de vez em quando. Conhecia bem a linguagem das mãos dela e sorria, de olhos fechados, enquanto a avó percorria o caminho familiar da ternura que sempre lhe mostrara.
Com o decorrer dos anos, a avó tornou-se velha e frágil. Chegou então a vez da neta tomar conta dela. De manhã bem cedo, vinha acender o lume e aquecer água para o chá. Cozinhava, lavava e penteava o cabelo prateado da velhinha. Massajava com carinho os pés cansados, dedo a dedo. Pegava nas mãos que tanto amava e massajava-lhe os dedos hirtos. Por vezes, embora mais raramente, caminhavam juntas pela aldeia, atravessavam o vale e iam até às montanhas, rindo e cantando juntas. Sempre que o piso era incerto, a neta oferecia o braço à avó.
Uma noite, a neta sonhou com a avó a subir sozinha a montanha. Queria juntar-se a ela, mas a avó virou-se e levantou a mão:
— Tenho de ir sozinha — dissera, com um sorriso tranquilo nos olhos.
No dia seguinte, como de costume, a neta foi a casa da avó. Mas, quanto tentou acordá-la, viu que o corpo estava frio e a face serena. De joelhos, fulminada pela dor, a neta sentiu o coração a esvoaçar e o estômago a tremer, como quando era criança.
Estremeceu dos pés à cabeça, como ramo de um cedro apanhado no meio de uma tempestade tremenda. Como poderia viver sem a sua avó adorada? O coração abriu-se como um rio e as lágrimas inundaram o seu rosto. Os soluços sacudiram-na toda. De repente, ouviu a voz da avó:
— Minha pequenina, ouve-me.
A neta sentiu umas mãos fortes e quentes a acariciar-lhe as costas. Eram mãos invisíveis, mais poderosas do que as mãos físicas da avó. Essas mãos abraçaram-na e embalaram-na, incutindo-lhe bem-estar por todo o corpo. Os soluços cessaram, tão depressa como tinham começado. Sentiu uma enorme leveza no coração e força nos membros. Pôs-se de pé, e afagou a face e a testa da querida avó morta.
◊◊◊◊◊◊
A neta já foi muitas vezes avó. E muitas vezes também já pegou ao colo nos netos. Embalou-os com os seus braços fortes e capazes, riu e chorou com eles, e cantou para eles, enquanto os acariciava.
— Meus pequeninos, ouçam bem. O espírito da avó rodeia-nos. Está no vento e nas árvores. Está nos vales e nas colinas. As mãos do espírito da avó brincam com os peixes nos riachos e acendem o lume da lareira. Está sempre presente quando estamos com amigos calorosos, quando provamos comida deliciosa, e sempre que partilhamos sorrisos ou lágrimas. Onde quer que estejamos, a avó está sempre perto. E sempre que precisarmos dela, podemos fechar os olhos e sentir-nos no seu colo.
Barbara Soros; Jackie Morris, Grandmother’s Song, Bristol, Barefoot Books, 1998 (Tradução e adaptação)
Fonte: Clube de Contadores de Histórias

 

Conto 2: O nosso carro é um abrigo (Monica Gunning)

Fonte da imagem: AQUI.
 
Os carros da polícia estão cada vez mais próximos. O barulho das sirenes faz-me doer os ouvidos e as luzes cegam-me os olhos. Até dou um salto, de tão assustada que estou.
— Não te mexas, Zettie — avisa a minha mãe. — Não podemos dar nas vistas.
Enfiamo-nos por entre as roupas que estão no assento traseiro do carro.
— Mãe, é um bocado assustador dormir no carro — sussurro.
A minha mãe concorda:
— Eu sei. Estão sempre a acontecer coisas e os carros da polícia andam sempre em perseguições.
E abraça-me com força, enquanto dura o barulho das sirenes.
Quando fica tudo em silêncio, a minha mãe conduz pela Chandler Avenue e estaciona diante do pátio de um bloco de apartamentos, cujo jardim está cheio de flores: buganvílias, rosas, hibiscos. À luz dos candeeiros da rua, as cores são tão alegres como as das flores do pátio que deixámos em Port Antonio. Adoramos estacionar neste sítio.
Durante semanas, um letreiro a dizer “Aluga-se” esteve pendurado numa das janelas. Na semana passada, quando perguntamos pelo andar, o dono disse-nos que só o alugava a pessoas com um emprego fixo. E queria dois meses de renda adiantados, dinheiro que a minha mãe não tem.
Fecho os olhos e vejo-me na terra dos meus sonhos, com o meu pai e a avó Mullins. Estamos na Jamaica, a fazer um piquenique na praia. As ondas rebentam de encontro às rochas e acordo com o barulho. Afinal, não estou na Jamaica. Estou na América. E não foi o barulho das ondas que me acordou, mas alguém a bater na janela do nosso carro.
A luz de uma lanterna ofusca-nos os olhos.
— O que está a fazer aqui, minha senhora? — pergunta um polícia, num tom de voz duro.
— A minha filha e eu só estamos aqui a passar a noite, senhor.
— Aqui não é permitido estacionar à noite — informa o agente. — Tem de procurar outro lugar.
— Eu procuro, senhor, mas não estamos a fazer nada de mal — diz a minha mãe.
Depois, senta-se ao volante e saímos dali.
As lágrimas deslizam-lhe pela face, como quando o meu pai morreu.
Chego-me à frente e acaricio-lhe os caracóis.
— Ó mãe, porque não vamos para a Magnolia Avenue? Lá, os polícias nem sequer incomodam o Senhor Williams, quando ele dorme no banco do parque.
— Boa ideia, filha! Tinha-me esquecido desse lugar.
A minha mãe estaciona o carro na Magnolia Avenue e aconchegamo-nos. Em breve adormeço nos seus braços.
♥♥♥♥
Na manhã seguinte, bem cedo, a minha mãe acorda-me e diz:
— Vamos utilizar a casa de banho do parque antes que fique cheia de gente.
Está muito frio lá dentro e tremo enquanto visto o meu uniforme escolar. Depois, salpico a cara com a água da torneira.
— Esta água é fria como gelo, mãe.
— Tens de ser corajosa! — murmura ela.
Saímos e sentamo-nos num banco. A minha mãe faz-me quatro tranças, como eu gosto, embora puxe o meu cabelo com força para que fiquem bonitas. Começo a cantar uma canção que inventei, para me distrair dos puxões. A minha mãe canta comigo, durante algum tempo, mas, quando canto mais alto, põe um dedo nos lábios e diz:
— Canta mais baixo, Zettie. Ainda acordas o Senhor Williams.
Depois, abre a nossa pequena geleira e faz sanduíches com manteiga de amendoim e geleia. Bebemos o resto de um refresco de laranja. É doce, mas, como já tem três dias, não sabe muito bem.
— Quem me dera um chocolate quente — digo. — Como aquele que fazias com os grãos de cacau que apanhávamos perto de casa.
— Sinto-me triste por não poderes beber um — diz a minha mãe, olhando-me nos olhos.
Em seguida, pergunta-me:
— Lembras-te do sol da Jamaica? De como brilhava depois de uma chuvada?
Claro que me lembro. Sobretudo em dias frios e enevoados como o de hoje. Por que razão morreu o meu pai? Os empregos temporários da minha mãe e o curso profissional que frequenta com tanto esforço fazem com que todos os dias sejam escuros e húmidos.
— Quando arranjar um trabalho fixo, o sol vai brilhar de novo — diz a minha mãe, como se conseguisse ler os meus pensamentos.
Fico calada. Já a ouvi dizer isto muitas vezes, mas sei que as coisas agora estão mais difíceis. A caminho da escola, pergunto:
— Mãe, será que podias…
— Podia o quê, Zettie?
— Deixar-me ficar na esquina por detrás da escola?
— Porquê? — pergunta.
— Por causa de uns rapazes maus que dizem que o nosso carro é um pedaço de sucata velha. E também fazem troça da bandeira no vidro. Não podemos tirá-la, mãe? — pergunto.
A minha mãe para o carro e dá-me um abraço.
— Não lhes prestes atenção, filha. Estuda, como o teu pai fazia, e anda de cabeça erguida. Eu tiro a bandeira.
Apresso-me a sair.
— Espero por ti no recreio depois das aulas — digo à minha mãe, virando-me para trás.
Quando ela me vai buscar depois das aulas, enfio a cabeça no casaco para não ser reconhecida ao esgueirar-me para dentro do carro.
— Hoje, não havia empregos de escritório na agência — diz.
— Isso significa que vamos comer manteiga de amendoim e geleia à noite, outra vez? — pergunto.
— Não, porque fiz outra coisa. Adivinha o que foi.
— Nunca mais teremos um apartamento se tu não tiveres um emprego fixo.
— Distribuí panfletos numa Feira de Saúde. Não fiz muito dinheiro, mas tenho o suficiente para comprar o jantar e meter gasolina no carro.
Fico com a cara a arder e sinto um aperto no peito. Porque não pode a minha mãe ter outro tipo de trabalho? A fome faz-me esquecer a tristeza.
— Podemos partilhar cachorros quentes e queques com a Ana Mae e o Benjie?
♥♥♥♥
Quando chegamos ao parque, o Benjie corre ao meu encontro. Tem oito anos, como eu, mas é pequeno e franzino. A minha mãe faz jantar para todos. Os olhos do Benjie brilham e pergunto-me se terá comido alguma coisa hoje. Depois da refeição, pergunta-me:
— Queres vir comigo procurar latas e garrafas vazias para vender?
— Não sei… — hesito.
A minha mãe é muito atenta e não gosta que eu ande a remexer em coisas. O Benjie está a poupar o dinheiro das latas e das garrafas que apanha para ajudar a mãe. Já tem 1 dólar e 50 cêntimos.
— Fiquem por perto e sejam cuidadosos — pede a minha mãe.
O Benjie corre por entre as árvores à procura de garrafas e latas. Mas, quando começa a procurar no lixo, digo-lhe que é perigoso e ele para. O montão de latas que arranjou deixa-nos satisfeitos. É capaz de lhe render outro dólar.
— És a minha melhor amiga — diz, enquanto se despede com um aceno.
— Também tu és o meu melhor amigo — replico.
Nessa noite, a minha mãe e eu aconchegamo-nos no banco traseiro do carro e ela lê-me um livro que requisitamos na biblioteca.
— Dormir no carro é melhor do que no albergue da igreja — digo. — Detestava aquele lugar barulhento e cheio de gente! Havia um bebé que chorava constantemente, lembras-te?
— Por isso, prefiro usar o nosso carro como abrigo — responde a minha mãe.
Aninho-me contra ela, enquanto estuda para um dos seus exames.
♥♥♥♥
No dia seguinte, depois das aulas, leio o meu livro, enquanto espero pela minha mãe no recreio. Mal viro a página, o Alex, que é um rufia, põe-se atrás de mim e puxa pelas minhas tranças.
— Olha a Zettie da chocolateira! — troça. — Vejam só a Zettie da chocolateira! — diz para os amigos.
Todos se riem e gritam “Zettie da chocolateira!”
— Palermas! — respondo.
Ficam furiosos e o Alex volta a puxar-me as tranças com força.
Sinto-me assustada. Não vejo nenhum professor. O que hei de fazer? Acabo por desatar a correr o mais depressa que posso. Saio do recreio, desço a rua e paro numa esquina onde já não me podem ver. Estou sem fôlego quando vejo a minha mãe junto do portão da escola. Sai do carro à minha procura.
— Mãe, mãe! — chamo e aceno.
Contudo, ela não me vê. Volta a entrar no carro e dá meia-volta. Grito mais alto e corro, mas tropeço e vejo-a afastar-se. O meu joelho ficou esfolado e a sangrar. Coxeio até à esquina. Depois, sento-me e choro. As nossas vidas mudaram tanto depois da morte do meu pai…
Espero mais um pouco, sem tirar os olhos do recreio, mas a minha mãe não regressa. Para onde terá ido? Saber que anda à minha procura ainda me faz chorar mais. Abro os olhos quando ouço o ruído de uma moto a parar junto de mim. É um polícia! Será que me meti em sarilhos?
O polícia pergunta:
— Estás perdida?
— Não, senhor. A minha mãe atrasou-se a vir-me buscar.
— Não posso deixar-te sozinha — diz, num tom de voz amável.
Fica junto de mim, mas não demasiado próximo. Não sabia que um polícia podia ser tão gentil. Pensava que eram todos maus.
A espera parece-me eterna e dou-me conta de que, num mundo cheio de pessoas, só tenho a minha mãe. Onde se terá ela metido? O que será de mim se algo lhe acontecer? Será que o polícia vai pôr-me numa família de acolhimento? Viver num carro não é a melhor situação, mas, pelo menos, tenho a minha mãe para me amar e cuidar de mim.
Ouço um carro a buzinar. É a minha mãe. Pergunta-me, a chorar:
— Porque saíste do recreio, Zettie?
Entre soluços, conto-lhe o que aconteceu.
— Tive medo, mãe. Por isso fugi para aqui.
— Pensei que tinhas ido para o parque. O Benjie e a Ana Mae ajudaram-me a procurar-te. Ficámos tão preocupados. Graças a Deus que estás bem.
A minha mãe acena para o polícia, para lhe dizer que está tudo bem, e eu forço um sorriso, por entre as minhas lágrimas. Vejo que deve ter chorado muito por minha causa, porque ainda tem os olhos vermelhos.
Abraça-me e diz:
— Esta noite, precisamos de relaxar as duas. Trabalhei o dia todo na Feira de Saúde e pagaram-me mais horas. Vamos festejar!
Comemos esparguete e gelado na cafetaria. Depois do jantar, a minha mãe pisca o olho.
— Hoje vamos dormir numa cama a sério!
— Num motel? Naquele superconfortável onde dormimos na última vez? — exclamo.
Mal entramos no quarto, precipito-me para a casa de banho e abro o chuveiro. A água faz-me cócegas nas costas.
— Ó mãe, a água quente sabe tão bem! Quem me dera tomar um duche todos os dias!
Quando entro na cama, estico-me, sacudo os dedos dos pés e puxo o lençol limpo até ao nariz. A minha mãe abraça-me, chama-me Botão-de-Ouro e sinto todo o seu amor inundar-me.
— Gostavas de dormir numa cama este Verão em vez de no carro? — pergunta-me. — É que uma senhora ofereceu-me um emprego na Feira de Saúde. Vou ajudar a criar um programa para pessoas como nós, com dificuldade em arranjar casa. Vamos poder alugar um quarto — diz a minha mãe.
— Ó mãe, será que vais conseguir poupar para aquele apartamento com jardim enquanto lá trabalhas? E continuar a estudar?
— Espero que sim! — diz ela, abraçando-me com mais força.
Aninho-me nos seus braços e digo:
— Desculpa se, às vezes, me porto mal.
Depois, aninho-me ainda mais e adormeço, sabendo que, com ou sem apartamento, tenho a minha mãe e que ela tem-me a mim.
Monica Gunning, A shelter in our car, San Francisco, Children’s Book Press, 2004 (Tradução e adaptação)
Fonte: Clube de Contadores de Histórias

19/11/2012

Conto 1: O Amor vence tudo!

                                                                                                                         Fonte da imagem: AQUI.

 "abriu-se um gigantesco buraco com um diâmetro de mais de 20 metros, diante dos seus olhos incrédulos."
  
   Como acontecia sempre que tinha reuniões na escola de manhã, Artur levantou-se cedo. Após um duche rápido, fez a barba, pôs o seu desodorizante preferido e desceu as escadas em passo de corrida, saindo pela garagem.
   No carro, a esposa, já com o pé no acelerador, esperava-o. Linda como sempre estava, repreendeu-o docemente:
               -- Estava a ver que não vinhas. Tens de passar a levantar-te mais cedo, meu preguiçoso!
   Ele justificou-se como pôde. Que não tinha a força de vontade dela, que até se tinha esforçado, sobretudo depois do estranho sonho que tivera.
   Perante o interesse dela, ele explicou que do sonho se lembrava distintamente de estar a cair num buraco sem fundo mesmo à entrada da escola. Tinha sido salvo pelo toque do despertador! Para ela, o sonho não queria dizer nada e devia-se ao hábito de estar a ver o AXN ou a FOX até tarde. “Muito tarde!”, concluiu ela com um tom de censura. Mas Artur insistia que aquela queda no vazio o impressionara muito, pois parecia mesmo real…
   Entretanto, chegaram à estação da Fertagus. Tomaram o pequeno-almoço mais ou menos habitual quando comiam fora: duas meias de leite, uma escudela estaladiça com pouca manteiga e uma miniatura de bolo de amêndoa amorosamente partilhada. Conversaram sobre as tarefas que iriam ocupar-lhes o longo dia até ao reencontro às 23h45.
   Despediram-se com um beijo breve e um olhar cúmplice.
   Invadido por um sentimento estranho e indefinível, Artur entrou na segunda carruagem do comboio proveniente de Setúbal e sentou-se, enquanto passava na instalação sonora a canção No More, No More, dos Aerosimth. Pressentiu que havia ali algo de premonitório…
   Cerca de uma hora depois, depois de ter mudado de comboio em Sete Rios, chegou à estação do Cacém. Estranhou não ver ninguém à entrada da escola. Foi então que viu a Diretora que, vinda do interior, se aproximava do portão. Artur transpôs a entrada e saudou-a:
               -- Olá, cara Diretora! Vai tomar um cafezinho?
   E aproximou-se para lhe dar um beijo, dado que não se viam desde a interrupção do Natal. Mesmo antes de os seus lábios cumprirem a intenção do cumprimento, sentiu-se rodopiar como um pião e em velocidade crescente. A Diretora tinha desaparecido. Os carros, as árvores, o edifício central, a entrada, tudo se tinha transformado numa massa escura, indistinta, movendo-se vertiginosamente em círculo, como se de um tufão se tratasse. Artur quase não conseguia abrir os olhos e sentia dores nos ouvidos, de tal forma o barulho que vinha de dentro da terra, oscilando entre rugidos e assobios, lhe massacrava os tímpanos.
   Quando estava a começar a reconhecer o cenário do sonho que tivera durante a noite, abriu-se um gigantesco buraco com um diâmetro de mais de 20 metros, diante dos seus olhos incrédulos. Parecia não ter fundo e do interior saía fumo e ar quente. Artur estava petrificado e, sem conseguir reagir, foi sugado violentamente. Num misto de surpresa e de terror, gritou um AHHHHH arrepiante, mesmo antes de perder os sentidos e desaparecer no negrume daquela cratera.
   À noite, Flor estranhou a ausência das mensagens de Artur. Atribuiu o facto à irremediável distração do marido e dirigiu-se para a estação à hora habitual.
   Artur não veio no comboio previsto. Nem no seguinte. Nem no outro.
   Flor telefonou para a escola, mas, dado o adiantado da hora, ninguém atendeu. Regressou a casa e foi a uma agenda antiga procurar os números de alguns dos colegas dele. Nenhum o tinha visto na escola. A Diretora dizia não ter a certeza de o ter visto… Ficou desesperada. Contactou hospitais, morgues, a polícia, mas do homem da sua vida… nada! O seu estado era indescritível. Ao sentar-se no sofá, desfaleceu!
   Acordou muito cedo. Sem se dar conta, uma força estranha fê-la dirigir-se ao computador que ele lhe oferecera há menos de uma semana e ligá-lo. Ficou a olhar para o teclado, desorientada, sem saber o que fazer. Quando começava a reconstituir o puzzle do inexplicável desaparecimento do marido, viu-o! Sim, viu-o a olhá-la e a sorrir-lhe no lado superior direito do Ambiente de Trabalho, no interior do computador. Gesticulava e fazia-lhe sinais. Foi de mais para ela! Perdeu os sentidos e caiu desamparada no chão da sala.
   Passadas umas horas, voltou a si. E lá continuava ele a sorrir-lhe, como que a dizer-lhe: “Então?”
   Como sempre fora uma mulher prática, lançou-se à tarefa de encontrar uma forma eficaz de comunicarem: ela escrevia em folhas A4 e mostrava-lhas; ele usava a mímica. De tal forma a estratégia foi eficaz, que, menos de uma hora depois, já riam e interagiam como se aquela separação absurda não existisse…
   Ele não sabia explicar-lhe como tinha ido ali parar e só se recordava de ter caído naquele abismo negro. Depois de muito “conversarem”, estabeleceram uma lista de procedimentos para evitar pôr em perigo a vida de Artur: nunca desligar o computador, adquirir o antivírus mais poderoso que houvesse no mercado, não enviar nada para a reciclagem e nunca usar a tecla delete nem a função “cortar”.
   Embora em espaços diferentes, têm-se um ao outro, comunicam e são felizes! Vivem um dia de cada vez e não pensam no futuro, pois esse, como sabemos, não está garantido em nenhuma relação…
 
Conto de António Pereira